Reproduzo o aqui um artigo muito interessante que mostra a origem de algumas das nossas crenças e como podemos ser afectados por elas. O artigo foi escrito pelo jornalista André Moragas ( O Globo)
A dita “sabedoria popular”, expressa em diversos ditados que ouvimos desde pequenos, pode ser considerada qualquer coisa, menos sabedoria. No entanto, infelizmente, ela é repetida de geração em geração até que entremos na vida adulta e nos demos conta de que a “sabedoria popular” nos limita, nos reprime e não permite que sejamos autênticos, corajosos e desbravadores. É claro que alguns conseguem furar o bloqueio. Para estes, estarão sempre reservados os melhores lugares ao sol.
Quem aqui nunca ouviu os ditados abaixo e até hoje não repete alguns deles para seus filhos, para seus subordinados e até para seus amigos? Então, para cada um deles eu faço um breve comentário de como pode afetar a nossa vida hoje, dentro ou fora das empresas. Vamos lá:
Mais vale um pássaro na mão do que dois voando – esse talvez seja o lema da bandeira dos que acreditam na mediocracia (e não na meritocracia). Ele berra nos seus ouvidos: “Não arrisque, fique com o que é seguro. Não vale a pena se destacar, seja mediano e passe com a média 5”. Ou seja, ele faz com que as pessoas se contentem com o pouco. E não falo aqui só de bens. Os que gostam deste ditado se contentam com um emprego médio, com um casamento mais ou menos, com uma vida sem sal, mas segura. Pois bem, na minha vida, em qualquer situação, eu sempre mirei nos dois pássaros voando.
O bom é inimigo do ótimo – esse tem um problema, pois realmente parece que é um bom conselho. Ledo engano. Ele coloca o bom como antagônico ao ótimo, quando, na verdade, é um caminho a seguir e não uma escolha. Ou seja, ele limita a evolução natural de algo bom para uma coisa ótima. Então, não me venha com essa. Se está bom hoje, pode estar ótimo amanhã, sem que isso gere inimizade entra os dois conceitos.
Devagar se vai longe – Outro ditado travestido de bom conselho. Os mais incautos leem que deve se ter perseverança. Errado, ele dita a sua velocidade na vida, sempre lenta. Até o dia em que você descobre que andou devagar demais e só ultrapassou alguns metros. O problema é que você só percebe isso no final, quando não dá mais tempo de correr. Mas, meu amigo, a vida é uma só e não tem reprise como o “Vale a Pena Ver de Novo”.
A pressa é inimiga da perfeição – Diz quase o mesmo que o anterior, e te o mesmo objetivo: limitar a sua velocidade na vida. Por que uma coisa feita rápida não pode ser perfeita? Ah, dirão alguns, é impossível atentar para os detalhes se você faz as coisas correndo. Mas quem disse que fazer com pressa é sinônimo de fazer correndo? Calma, eu não voltei ao fumo anterior. A pressa pode ser ditada pela velocidade com a qual você faz alguma coisa ou implanta um projeto. Isso não quer dizer que você não planejou antes de executar. Fazer correndo sim, implica em pular a parte importante do planejamento.
Apressado come cru – Como vocês podem perceber, eles não querem mesmo que você saia da sua velocidade de 10 km/h. Então, ok, eu adoro comida japonesa. Não me importo de comer cru. Como já disse o cantor Lobão, “prefiro viver dez anos a mil do que mil anos a dez”. É claro que esse é o outro extremo, quem sabe não dá pra viver 500 anos a 500 km/h.
Quem espera sempre alcança – Então tá, continua esperando aí que eu vou à luta. Nada na minha vida veio fácil e, talvez por isso, nunca fiquei sentado na praça esperando cair no meu colo. Corri atrás. Faça isso também. Não espere que os outros te entreguem de bandeja, fabrique a bandeja.
Quanto maior a altura, maior o tombo – Esse limita o seu sonho. Não sonhe alto, ele diz, você pode se emborrachar no chão. Fique ali, no meio da multidão, sendo mediano, sem ser percebido. Não tente voar, voar é para os pássaros. Não tente nadar, nadar é para os peixes. Ande somente, se possível a 10 cm de altura e a 5 km/h.
Não se pode remar contra a maré – Imagina se Gandhi e Max Luther King tivessem acreditado nisso. Esse é o maior segredo da vida. Conteste, seja crítico, tenha a sua opinião. Não deixe que os outros a tenham por você. Tem uma frase que adoro que diz: “o mercado odeia vácuo. Se você não se posiciona, alguém te posiciona”. Pois, então, escolha a sua batalha e lute contra a maré, não se deixe levar pelas ondas. Como diria um amigo: “camarão que dorme na areia a onda leva”.
Pato novo não dá mergulho fundo – Esse eu já comentei aqui em um outro texto. O problema é que ele não é dito apenas na infância, mas repetido insistentemente nos corredores das empresas, principalmente para os estagiários. Sempre tentando colocar uma laje na sua capacidade. Arrisque-se, dê o seu mergulho fundo. Não seja raso.
O bom cabrito não berra – Esse é pra continuar na linha dos bichos. E afirma categoricamente que, para você ser considerado bom, não deve reclamar. Mesmo que te lacem os pés, te cortem a lã e te deixem morrendo de frio nas geleiras do mundo corporativo. Fique quieto, não reclame, aceite tudo e abaixe a cabeça. Minha amiga Mata Hari diria: é ruim hein!!!! Vou berrar até ficarem surdos.... mmméééééééé”.
Os últimos serão os primeiros – Esse certamente foi dito por alguém que nunca conseguia chegar entre os primeiros (no mesmo estilo da frase proferida pelo careca de que “são dos carecas que elas gostam mais”). Nunca alguém acostumado a vencer, a lutar a conquistar seu espaço diria uma barbaridade dessas. Vamos combinar que os últimos serão sempre os últimos. No máximo os penúltimos. Então corra para estar no pódio, pois ele só tem três lugares e a melhor vista é a de quem fica em cima.
Se melhorar estraga – Na boa, como pode alguma coisa melhorar ao ponto de estragar. Esse é um conceito que eu nunca consegui entender. Esse tipo de ditado só me leva a acreditar que as pessoas tem muito medo de serem felizes. Pois sendo felizes tem mais coisas a perder do que sendo infelizes. E o medo de perder consegue ser maior do que o prazer que a felicidade proporciona. Meu amigo, curta o momento. A felicidade é feita de vários momentos e nada é eterno. Então, não deixe que a preocupação em perder impeça que o momento feliz seja aproveitado.
Ah, e tem também as cantigas de ninar, que, quase como os ditados, nos fazem ouvir e repetir os mesmos conselhos de “não arrisque”, “não corra”, “não brigue pelo que você acredita”, “tenha medo do confronto”. Só para citar duas clássicas temos o famoso: “Cai, cai, balão / Cai, cai balão / aqui na minha mão. Não vou lá, não vou lá, não vou lá / tenho medo de apanhar”; “Boi, boi, boi... / Boi da cara preta / pega essa criança que tem medo de careta”. Imagina você crescendo ouvindo isso, com medo de cara feia e de arriscar pegar o balão que, meu amigo, nunca vai cair na sua mão, não importa o quanto você cante para ele.
A notícia boa é que para todo veneno existe um antídoto. Pois são eles que eu repito para mim e para minha equipe todos os dias: “só quebra prato quem lava louça”, “quem não arrisca, não petisca” e “é melhor pedir perdão do que permissão”.
1 comentário:
São crenças poderosas, mas sempre deve se usar com cuidado as generalizações !
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